Aí você entra em uma grande empresa – que atue nas áreas de engenharia e infraestrutura, por exemplo – e vê que tem algumas coisas estranhas acontecendo nos bastidores. Mas, não é com você…
Depois, você comenta com um colega que ouviu falar de algo que soou um pouco fora dos padrões. Seu colega diz que o Brasil é assim mesmo e que sem isso não dá para crescer. Afinal, sabe como é, né?
Vocês conversam como no Brasil dar uma graninha para o guarda de trânsito ou para um fornecedor é uma instituição nacional. Você se sente um pouco desconfortável, mas se acostuma e começa a achar normal. Afinal, você é um homem honesto e cumpridor de todos os seus deveres (tirando um imposto ou outro).
Pouco tempo depois você se vê em uma situação que para você já é “normal” e que você precisa se envolver um pouco mais do que “só ficar sabendo“. Parece que está tudo bem e você até ganha um dinheirinho a mais no final do processo.
Você recebe um bom “agrado“. Seu líder fica feliz e parece que todos estão bem. Você sobe na hierarquia da empresa. Sua família fica feliz.
As transações vão ficando cada vez maiores e os agrados também. Você se sente um pouco incomodado no início, mas depois tudo se ajeita. O ser humano se acostuma a tudo quando começa a ser permissivo.
Você chega a dizer que não vai mais fazer isso. Está meio arriscado. Mas você já está muito envolvido e o dinheiro da próxima vez é ainda maior. E sua família nem sabe, então, não pode arriscar a viagem que prometeu a sua filha.
Um dia, você descobre que um dos herdeiros da empresa foi preso em uma operação da polícia federal e que até a investigação chegar até você é só uma questão de tempo.
Vale a pena?
Claro que não.
Pense bem onde você coloca sua credibilidade. Ela é de fato a única coisa que você tem. Todo o resto, podem levar de você, seu nome é sua garantia.
Não é porque “todo mundo faz” que é legal (legal, nos dois sentidos).